O cansaço e a Sobrecarga de conteúdo digital.

Que o mundo caminha rápido demais como que voando já é uma constatação universal. Ter menos tempo para realizar atividades ou viver plenamente é cada vez mais desafiador em uma sociedade como a nossa, que consome sem objetivos à longo prazo.
Como jovem pertencente ao que a ciência categoriza como geração Z, constantemente ouço e leio inúmeros estudos que elencam uma série de benefícios que o uso das redes sociais trouxeram para a sociedade como um todo, assim como a internet com a possibilidade de acesso ilimitado à informação. A facilidade de acesso às redes é uma benção, diferentemente de gerações anteriores que acessavam conteúdos informativos com mais dificuldade e muitas restrições, isso sem contar na velocidade lenta em que chegavam as informações, seja através do jornal, rádio, ou até mesmo a TV algumas décadas depois.
Minha geração passou na frente no quesito de "revolução tecnológica" e isso é inovador, progressista, talvez até arriscaria dizer ser uma conquista ambiciosa.
Entretanto, justamente por pertencer à essa sociedade, constantemente percebo alguns efeitos colaterais em mim e em outras pessoas por estar imersa nessa rede pegajosa que me cola como uma teia de aranha gruda suas presas, e explicarei o motivo dessa constatação na de escrita do texto que esta pequena escritora exausta escreve.
Eu me sinto cansada mentalmente, tantos estímulos visuais, de áudio e leitura me sobrecarregam demasiadamente, e infelizmente pouco há que se fazer para evitar essa sobrecarga de elementos. São tantos conteúdos que o logaritmo entende ser interessante e me manda, que honestamente me sinto sobrecarregada de uma informação que não pedi, que me faz ter um ponto de vista que não é importante para eu ter, e que não agrega na minha realidade de vida.
Darei um exemplo à vocês: Passando rapidamente pelos reels vendo animaizinhos sendo fofos com seus donos, entrou um conteúdo da ex-modelo Gisele Bündchen em em um programa de canal pago dizendo sobre a ineficácia de se estabelecer dietas. Gisele encantou a entrevistadora quando lhe disse o quanto é inútil estar de dieta sempre, e que cada vez mais acha importante saber-se a origem dos alimentos que consome e por isso, o ideal é plantar sua própria comida, fazer sua própria horta, colher suas frutas, ter uma alimentação de qualidade sabendo a origem dos alimentos. Destaco que a modelo aposentada de quarente e três anos estava impecável, com seus cabelos louros perfeitos, corpo bronzeado, maquiagem irretocável, roupas clean e comfy tendência da elite.
Quando assisti os stories, imediatamente vieram à minha mente uma enxurrada de informações. Já comecei uma reflexão sobre a visão pouco acessível de estilo de vida de Gisele, e pensei comigo que se partimos dessa lógica, órgãos de fiscalização tem qual utilidade? Se nós da classe C não podemos saber a origem dos alimentos que consumimos, classe majoritária faz a máquina capitalisma funcionar, pra quê existem os órgãos que fiscalizam essa transparência na produção alimentícia? Além disso, trabalhadores que vivem uma rotina exaustiva de oito horas de trabalho, jornadas de ida e volta desgastantes compram alimentos prontos justamente pela falta de tempo, e não por quererem se matar e acabar com sua saúde. Quem é o indivíduo pertencente à classe baixa que trabalha fora do lar consegue ter tempo para se dedicar ao cultivo de sua comida? A resposta é evidente: ninguém. Provavelmente nem a própria modelo cuida de sua horta, quem a cultiva é o jardineiro que é contratado para isso e se alimenta de congelados.
Mas a grande questão do texto que estou escrevendo não é essa, a pergunta que não quer calar é: "Qual a necessidade de eu saber sobre como Gisele Bündchen se alimenta? O que eu tenho a ver com isso? Ela faz parte de um padrão de vida que não é o meu, por qual razão eu estou consumindo isso? A resposta é simples e desconcertante: as redes me empurram guela abaixo.
É perteptível o esforço mental que eu tive para formular as análises do comportamento narrado em 60 segundos em um reels? Eu não tinha a necessidade de filosofar sobre nada disso naquele momento, mas em razão do que me foi jogado, me desgastei à toa. O que a alimentação da Gisele afeta a minha vida? Absolutamente nada.
Esse foi somente um exemplo, mas quantos conteúdos no nosso dia-a-dia nos sobrecarregam e nos cansam sem a menor necessidade? Se colocarmos isso em um prazo de anos, as consequências são devastadoras.
É essencial e já passou da hora de decidirmos o quê consumir em nossa vida, como minha psicóloga sempre me disse, fazermos boas escolhas para nós, senão ninguém aguenta. Tudo o que assistimos, lemos e ouvimos é assimilado pela mente, causando uma sobrecarga de informação desnecessaria.
Darei um outro exemplo, Big Brother Brasil é um inferno! Eu não quero saber quem é Davi, quem é Bia do Brás, se foi agressão ou não, eu quero mais é que se foda! A obsessão das pessoas com esse programa e a maneira como isso é mandado para mim constantemente como conteúdo de consumo são assustadoras. Eu tenho o direito de decidir o que vou consumir ou não, e quem tem o direito de me dizer o contrário? O Musk dono da "X" trilhonário que bate de frente com o STF? A liberdade de expressão também implica liberdade de consumo, e por que isso é tirado de nós jovens?
O desculpa do logaritmo não é válida, eles que tratem de evoluir suas formas de oferta de mostrar conteúdos conforme há procura e não ofertar desnecessariamente. Vídeos mandados insistentemente um após outro por horas todos os dias por anos traz efeitos terríveis: cansaço mental, aumento de ansiedade, intolerância e falta de apoio à informação segura são um dos vários desastres que estão ocorrendo e que daqui décadas se não se readequarem, impossibilitará que a sociedade esteja saudável.
Enquanto isso não acontece, podemos remodular de forma paliativa nosso tempo nas redes, selecionar com mais critério quem seguimos, o que influenciadores produzem, nos importar com o que é sólido dentro da nossa realidade. É essencial que esse filtro ocorra e o cérebro funcione de maneira saudável dentro de suas limitações evolutivas.
Ninguém fara isso por nós, somos nós e nós mesmos navegando nesse mar se desvencilhando do Ice Berg. Cabe a nós sermos críticos com o consumo em todas as áreas da nossa vida, principalmente no que tange ao consumo digital. Parece impossível, mas jovens costumam lutar para transformar-se em possibilidade não é mesmo?