
Minhas leituras-Janeiro 2023
Minhas leituras #JANEIRO
Olá querido leitor, seja bem-vindo a minha lista de livros lidos no mês de Janeiro! Decidi escrever sobre os livros que li nesse primeiro mês do ano em razão da leitura estar sendo essencial nesse momento de recuperação plena de saúde física e emocional que estou vivendo. Os livros me trazem completude, como se toda vez que eu lesse uma história parte de mim se conectasse a algo profundo e satisfatório.
Há muito tempo eu não lia com a frequência que estou lendo desde o início de Janeiro, durante muito tempo me dediquei somente a leitura de livros universitários e de leitura formal sobre minha faculdade de Direito, concursos públicos, OAB, entre outros, e ler literatura nacional e internacional foi como me reconectar comigo mesma, com uma Thábata que ficou perdida em algum tempo por aí.
Maaaas como em tudo temos a oportunidade de recomeçar (Graças a Deus!), venho aqui resenhar sobre os três livros que li nesse mês, histórias diferentes entre si e que me abriram a mente para vários assuntos que até então eu não tinha mais contato direto, que foram explanados de forma leve e me fazendo compreender de fato onde determinados temas se aplicam na sociedade atual.
Te convido a ler esses livros e abrir seu leque de leituras para esse ano. Sair da zona de conforto para mim foi essencial, e tenho certeza de que para você também será.
Vamos então para as resenhas!
#1 O avesso da pele - Jeferson Tenório
Quando internalizei a vontade de me habituar a leitura diária novamente, meu primeiro ímpeto foi pesquisar obras literárias sucesso de críticas e ganhadoras de prêmios literários, e esse me chamou a atenção por ser vencedor do Prêmio Jabuti de 2021 na categoria "romance literário" e a editora é a Companhia das Letras. Eu não sei se é um ponto de vista ingênuo meu por passar um certo tempo afastada do mundo literário, mas percebi a editora Companhia das Letras com uma pegada bem mais politizada e com livros de curadoria bem forte. Me deparei com vários títulos além do que eu li com uma temática bem mais impactante, onde a ficção trás conhecimento sobre problemas reais da sociedade, sendo livros não para fugir da realidade, mas sim para ser confrontado por ela e refletir sobre problemas estruturais. Foi o caso desta obra.
Eu particularmente gosto de livros assim, que me fazem refletir sobre temas, onde me coloco no lugar do personagem e penso "e se eu vivesse os dilemas desse personagem, como eu agiria?", "Como eu posso mudar meu olhar sobre o outro com o que eu li desse livro?", "Como eu posso praticar essas mudanças?", enfim, livros que me estimulem a ampliar minha visão de mundo e de sociedade.
O Avesso da pele vai tratar sobre racismo estrutural e como isso se reflete na vida dos personagens e em como pessoas fora da bolha enxergam os alvos de racismo. É uma história densa, dramática, sem toques de humor tão evidentes, e bastante melancólica, visto que o personagem Pedro - que é preto - narra a sua história em paralelo com a de seus pais após a morte de seu pai por um policial em uma abordagem.
O livro trás uma carga bastante melancólica, e se eu lesse um livro assim em um outro contexto de história pessoal teria abandonado a leitura, porém quando se tem uma determinada idade e principalmente exercemos a interpretação de texto, notamos que o tom dramático e muitas vezes negativo acontece em razão do personagem estar narrando afetado pelo luto, no apartamento de seu pai, olhando saudosamente seus objetos pessoais. Olhar sobre esse prisma faz você entender a complexidade da obra e permanecer nela quando começar a ser confrontado com problemas reais.
O narrador fala sobre racismo estrutural, racismo velado, relacionamento interracial, pobreza, violência, machismo, relacionamentos abusivos, diferenças culturais e sobrevivência. Ninguém é totalmente vítima e vilão, mas todo mundo é comandado por um sistema opressivo que altera esses papéis conforme o tempo passa.
Meu objetivo não é dar spoilers aqui, mas vou deixar frases que me marcaram e que me fizeram refletir.
O narrador fala sobre racismo estrutural, racismo velado, relacionamento interracial, pobreza, violência, machismo, relacionamentos abusivos, diferenças culturais e sobrevivência. Ninguém é totalmente vítima e vilão, mas todo mundo é comandado por um sistema opressivo que altera esses papéis conforme o tempo passa.
"(...) é assim que você vê a vida: um tumulto vital com o qual você tem que lidar apesar da cor da sua pele."
"E essa é a perversidade racismo. Porque ele simplesmente te impede de visitar os próprios infernos"
"E acho que quando gostamos de ser quem somos, é um sinal de felicidade"

RESENHAS
#2 A cabeça do santo - Socorro Acioli
Nesse livro eu confesso que criei uma grande expectativa, visto que o pano de fundo da história é bem criativo, mas acabei me decepcionando no final porque vi que foi bem limitado e sem desfecho para vários personagens e situações. Na minha visão havia capacidade para se ter uma grande história, mas ficaram pontas abertas sem solução e isso me deixou com aquela sensação de não saber se gostei do livro.
A história se passa no sertão do Ceará, na cidade de Candeia, onde o personagem principal Samuel vai atrás de seu pai após a morte de sua mãe. Ao chegar lá e ser "rejeitado" por sua avó (sim, estas aspas significam que nem tudo é o que parece), ela indica para que ele vá se abrigar em uma gruta, que posteriormente o personagem descobre ser a cabeça de um santo - santo Antonio - que se despendeu do corpo há anos atrás, e dentro dessa cabeça ele pode ouvir a oração de várias mulheres em horas especificas do dia pedindo para o santo um casamento.
Ao saber disso, Samuel - que se vê sem muitas oportunidades e sem qualquer dinheiro - aproveita para formar os casais de acordo com a oração das moças, o que dá super certo a princípio, porém, a fama do santo casamenteiro e seus milagres percorre todo o Brasil e Candeia prospera, despertando a ira do Prefeito e de outra moradora.
Pano de fundo bom para um grande enredo não é mesmo? Personagens engraçados, humor característico dessa região nordestina, porém o final me decepcionou, porque eu queria saber de onde vinha a capacidade da cabeça do santo em ouvir as orações e igualmente gostaria de um desfecho taxativo para Samuel, além do que não sabemos se os "vilões" que queriam o personagem fora da cidade conseguiram o intento ou não. Enfim, impossível dizer se gostei do livro.
#3 É assim que acaba - Colleen Hoover
(CONTÉM SPOILER!!!!!)
Esse livro ganhou meu coração de todas as formas possíveis, e eu comprei intencionalmente porque vi comentários sobre a temática do livro e imediatamente senti a necessidade de lê-lo.
Particularmente não desperta meu interesse livros de romance clichê, eu não tenho paciência com paquera adolescente e aquela melosidade toda, gosto de histórias mais reais e que retratam a vida. Porém esse livro misturou o melhor desses mundos, o romance e os dilemas da vida real, visto que retrata o começo de um amor e como ele se torna um relacionamento abusivo.
Todos os temas relacionados a mulheres e a libertação de relacionamentos tóxicos me interessam por um motivo bem honesto: já vivi um relacionamento assim, então quando comecei a ler a história da protagonista Lily Bloom me identifiquei totalmente, porque acredite se quiser, quando eu vivi um drama parecido em minha vida pessoal, eu era cercada de pensamentos parecidos com o dela. Pensamentos de "Fulano não é assim", "Ele teve uma vida problemática então devo ter pena e desprezar o meu próprio sofrimento" eram recorrentes, então os questionamentos de Lily eram cercados de realidade.
A forma em como a personagem é retratada de maneira forte e decidida acalenta o nosso coração, o que não significa que ela não sofra pela situação como um todo.
Acho que um dos personagens mais amados do livro foi o amor da adolescência dela que surgiu novamente - Atlas - que mostra à ela aos poucos a forma como ela merece ser tratada verdadeiramente.
Uma amizade notável também é a de Lily e Alyssa - que por um acaso é irmã do macho abusivo de Lily, Ryle, é bonito de ver como Alyssa apoia Lily e em nenhum momento passa pano para as violências do irmão.
O livro termina com Lily se divorciando de Ryle e a reação "arrependida" do chernoboy (me lembro do meme do chaves: volta o cão arrependido...) e seu malabarismo em encontrar um meio termo para que ele conviva com a filha deles que ainda é uma bebê.
A história de Lily continua no livro "É assim que começa", onde mostra a fase de superação do antigo casamento, os traumas dos abusos sofridos, o chato do ex-marido lixo não suportando vê-la com outra pessoa, e... Atlas!
Que moça não gostaria de um Atlas em sua vida não é mesmo?
Algo que achei notável no livro foi que ele foi baseado numa história real, em que a mulher vítima de um casamento violento decide se separar do marido - no caso a mãe da autora - e que isso de certa forma salva a vida das filhas.
Não adianta insistir em um relacionamento onde a pessoa comete violências contra você, seja violência física, verbal, psicológica, emocional - porque sempre os limites vão ser ultrapassados a cada agressão e quando você notar, você não existe mais.
Foi lindo ver a personagem quebrar o "ciclo de violência" se separando do homem que ela amava e pai da sua filha pensando no seu bem-estar e da bebê, isso salvou a vida de ambas porque as agressões nunca iriam parar se a união continuasse. Dificilmente a pessoa que agride consegue mudar seu comportamento agressivo por mais que ela ame (ou diga amar) seu parceiro porque é um padrão de comportamento. Foi assustador para mim ver nas declarações de Ryle pensamentos que a pessoa com a qual eu me relacionei chegou a me dizer e vi que de fato, além de ser um padrão de comportamento comum em pessoas abusivas, nesses casos, a distância é a decisão certa.
Um livro sensível, encantador, engraçado, empático, triste, feliz, sensato, enfim, uma obra que eu amei e indico para todos os leitores, seja homem ou mulher.
"As coisas não deveriam ser assim. Durante toda a minha vida, eu sabia exatamente o que fazer se um homem me tratasse como meu pai tratava minha mãe. Era simples. Eu iria embora, e aquilo nunca mais se repetiria. Mas não fui embora. E agora, aqui estou: com machucados e cortes pelo corpo, causados pelo homem que deveria me amar. Causados por meu próprio marido"
"Não existem pessoas ruins. Todos nós somos humanos e, às vezes, fazemos coisas ruins"
"As pessoas passam tanto tempo se perguntando por que as mulheres não vão embora... Onde estão as pessoas curiosas do porquê os homens serem violentos? Não é aí que deveria estar a culpa?"
"As pessoas que estão de fora de situações assim costumam se perguntar por que a mulher volta para o agressor. Li em algum lugar que 85% das mulheres voltam para situações violentas. Foi antes de eu perceber que era uma delas, e, quando vi essa estatística, considerei essas mulheres burras. Achei que eram fracas. Pensei isso várias vezes de minha própria mãe. Mas de vez em quando, as mulheres voltam simplesmente porque estão apaixonadas."
"Impedir o coração de perdoar uma pessoa que você ama é, na verdade, muito mais difícil do que perdoá-la. Agora eu sou uma estatística. As coisas que pensei sobre mulheres como eu são o que os outros pensariam de mim se soubesse de minha situação."
"Não deveríamos sentir um desgosto maior pelos agressores que pelas pessoas que continuam amando?"
"O ódio é exaustivo."
Escrita essa primeira resenha amadora sobre os meus livros lidos em Janeiro, agora em fevereiro eu volto para dizer sobre os livros lidos em Fevereiro. Boa leitura e até mais!